terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cidade enclausurada

  
Lúcio Flávio Pinto

    Alguma cidade brasileira está construindo mais prédios altos do que Belém, guardadas as devidas proporções demográficas? Não sei, mas duvido. Belém optou de vez por uma versão ainda mais medíocre do crescimento urbano vertical made in USA. A cidade já tem dois prédios de 40 andares e vários acima de 30. Outros com o mesmo gabarito estão em obras. O perfil urbano definido por arranha-céus se acentua. O horizonte começa a desaparecer em alguns lugares. Por serem os mais valorizados, atraem novos edifícios monstruosos.
    Qual a razão dessa proliferação de paliteiros de concreto pela cidade? Lógica, nenhuma. Só a busca do lucro maior, que se sustenta numa visão daninha das nossas elites e num gosto típico de classe média que enriquece, projetando sua sombra sobre todo o tecido social.
    O padrão individualista e egoísta se expande graças ao encolhimento do poder público, que vira uma extensão dos negócios imobiliários. Cada um por si e ninguém por todos. Vence o mais forte, o mais poderoso. Em todos os segmentos e setores da sociedade. Do miserável transporte público à construção civil inclemente. Belém ficou uma cidade hostil, árida, selvagem.
   Diante dos desafios atuais, o mero saudosismo é uma forma de escapismo. Mas quando se pega uma foto de Belém no início do século XX e se olha para a cidade dos nossos dias, à parte os problemas humanos, muitos dos quais apenas se agravam desde então, o que salta aos olhos é que antes tínhamos um céu, um horizonte, uma perspectiva que permitia furar a obtusidade da urbanidade equivocada e ver o rio e a floresta. Essa cidade, cujo tropicalismo resistia à insensatez dos seus governantes, está sendo sepultada pelas tumbas camufladas de concreto dos nossos engenheiros.


Jornal Pessoal de Lúcio Flávio Pinto.
 

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