quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Prefácio de Aurora


Este prefácio chega tarde, mas não demasiado tarde; no fundo, que importam cinco ou seis anos? Um tal livro, um tal problema, não são apressados; e, além disso, somos amigos do lento, eu e o meu livro. Não fui filólogo em vão, sou-o talvez ainda, o que quer dizer um professor de leitura lenta: _ por fim, escrevo também lentamente. Agora isso não só faz parte dos meus hábitos, como de meu gosto _ um gosto malicioso talvez? _ Não escrever nada que não deixe desesperada todo tipo de pessoa que 'tem pressa'. A filologia é, efetivamente, essa arte venerável que exige do seu admirador, antes de tudo uma coisa: manter-se afastado, não se precipitar, tornar-se silencioso, lento, _ como uma arte, um conhecimento de ourives aplicado à palavra, uma arte que tem para executar apenas trabalho sutil e cauteloso e que não chega a lugar algum se não for lentamente. É por isso que ela é mais necessária do que nunca, é por isso que, numa era do “trabalho”, ela nos atrai e nos encanta muito mais, ou por outras palavras: num tempo de pressa, de indecente precipitação, de suor, que “quer acabar” tudo de repente, sem exceção de todos os livros, antigos e modernos: _ quanto a nossa arte, ela não pôs fim facilmente ao que quer que fosse, ela ensina a ler convenientemente; quer dizer, lentamente, profundamente, olhando com prudência para trás e para diante de si, com pensamentos ocultos, com as portas abertas, com os dedos e os olhos sutis... ó pacientes amigos, este livro deseja apenas leitores e filólogos perfeitos: aprendei a ler-me convenientemente!

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